quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Para Meditar - Lendo a Bíblia com os olhos da Graça









Deus falou de muitos modos e de muitas maneiras, mas, para sempre, falou por meio do Filho. Portanto, segundo várias cartas de Paulo e segundo a epistola aos Hebreus, todas aquelas coisas anteriores (a Lei e seus cerimoniais), eram apenas uma pedagogia simbólica, e que teve o seu lugar na infância da formação da consciência, tendo caído em obsolescência quando tudo o que antes era sombra e arquétipo veio a ganhar concreção final em Jesus, o qual é Deus encarnado, e em Quem habita corporalmente toda a plenitude da divindade.

Assim, no V.T. temos um processo de uma longa pedagogia divina, e que muitas vezes está carregada de coisas que ferem os nossos “sentidos atuais”, mas que eram normais para o homem antigo. Desse modo, o escândalo é nosso, mas nunca foi deles. E é assim porque a revelação de Deus aos homens acontece conforme o estágio de percepção no qual eles se encontram, sendo que, agora, Deus diz a todo homem e em todo lugar, que Ele já se reconciliou com o mundo, por meio de um Varão ao qual Ele creditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos: Jesus.

Quando leio a Bíblia faço-o ao contrário do que normalmente as pessoas fazem. Ou seja: leio conforme Jesus, que mostrava o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras. Ora, com isso não digo que procuro profecias que “conformem o messiado” de Jesus, mas sim que leio buscando o espírito do Evangelho na Velha Aliança, a qual, embora agora “tenha sido removida” (Hebreus), carrega em si a semente imutável do amor e da justiça divinos.

Desse modo, leio a Bíblia a partir de Jesus, posto que Nele a Palavra se encarnou, se explicou, se auto-interpretou e fez sua própria aplicação à vida como um todo. Por isso, tudo aquilo que eu leio na Escritura e que não combina com o espírito do Evangelho, sem hesitação, à semelhança de Paulo e do escritor de Hebreus, eu considero como tendo caído em sua vigência, posto que está claramente afirmado que eram apenas “sombra de coisas que haviam de vir”.

Na realidade no V.T. Deus não estava dizendo sobretudo quem Ele era, mas sim quem nós somos. A revelação de Deus no período em que a Escritura foi composta deu-se através de um longo processo, e, quem não entende isso não compreende nada.

De fato, como disse Paulo, “tudo quanto outrora foi escrito, por nossa causa foi escrito, para que pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”.

A leitura bíblica é fundamental quando ela é feita com esses olhos, do contrário, ela se torna algo supersticioso e mecânico. Aliás, o fato da leitura bíblica ter sido considerada “meio de graça”—juntamente com a eucaristia e o batismo—fez com que, para muitos, o livro-Bíblia fosse considerado um ente vivo e mágico, como se carregá-lo e lê-lo, em si mesmos, carregassem uma benção inerente. Ora, na realidade não é assim. Isto porque as Escrituras podem ser examinadas, com toda acuidade e detalhamento, e, ainda assim, nada acontecer no coração de quem lê, posto que a Bíblia só se torna Palavra quando a leitura é feita a partir de Cristo, e quando o coração acompanha a revelação com fé.


Fonte: Caio Fabio


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