quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pensamento

O amor recebe sua definição singela, clara, verdadeira e absoluta em I Coríntios 13. O amor é uma escolha, uma opção, uma decisão racional. Seu valor é inestimável o que o torna gratuito e inegociável. Quem ama não cobra, pede troco, retorno, reconhecimento ou recompensa. O que passar disso pode ser chamado do que melhor couber na situação: educação, consideração, barganha, troca de favores, gentileza ou outro nome qualquer. Amor não tem vestido, nem acessório. Ele é, por si só, a pedra mais preciosa da vida que temos para dar ou receber. Sem anseios, culpas, medos, ou angustias de errar.

Flavia Fernandes

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Testamento Vital - Pense Nisto

CFM prepara documento para garantir dignidade na morte.


ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br

Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo).


Nos dias 26 e 27 de agosto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) realiza em São Paulo um evento que poderá ser um marco na humanização não só da saúde, mas da vida: médicos e juristas vão discutir a criação do testamento vital. Previsto em vários países do mundo, o documento expressa o desejo do paciente diante de uma doença sem possibilidade de cura.

Enquanto está consciente, a pessoa determina, por escrito e com testemunhas, quais são os limites do seu tratamento. Tem, assim, a possibilidade de encerrar sua vida com autonomia, respeito e dignidade. Como um ser humano ativo. E não como um objeto passivo amarrado a tubos numa unidade de terapia intensiva – sozinho, sem voz e sem afeto.

Explico melhor dando meu próprio exemplo. Tenho um pacto com meu irmão do meio. Quem sobreviver terá a responsabilidade de garantir o cumprimento da vontade do outro no encerramento de sua vida. Para nós, é muito importante morrer com dignidade, porque entendemos que morrer é o último ato da vida. É, portanto, viver. E queremos viver até o fim com respeito e coerência, na integridade do que somos. Se for eu que tiver uma doença sem chances de cura, caberá ao meu irmão garantir que eu não sofra intervenções cirúrgicas ou invasivas. Em resumo: não quero ser submetida a exames nem procedimentos desnecessários. Aquilo que hoje é chamado de “tratamento desproporcional” ou “obstinação terapêutica”.

Da equipe de saúde, espero que cuide para que eu me mantenha consciente, não sinta dor física e tenha o maior conforto possível até que minha hora chegue – nem prolongada nem abreviada. Pretendo aproveitar o tempo que me resta para revisitar minhas lembranças, conversar com aqueles que amo, acertar o que tiver de acertar. Quero morrer de preferência na minha casa, perto das pessoas importantes. Se possível, contando histórias da minha vida. Se por algum motivo estiver inconsciente, que alguém conte histórias para mim, coloque as músicas que eu gosto, leia os trechos de meus livros preferidos, ria e chore lembrando da melhor vida que pude ter. Se tiver que ser num hospital, só aceito encerrar minha vida numa enfermaria de cuidados paliativos.

Esta é a minha vontade. E tenho convicção de que só eu posso decidir sobre como quero me despedir da vida no caso de uma doença sem cura. Apesar da clareza da minha decisão, mesmo que eu escreva um documento, assine, arrole testemunhas e registre em cartório, não há hoje nenhuma garantia de que eu seja respeitada no meu desejo de morrer com dignidade – coerente com o que é dignidade para mim.

Diferentemente de outros países, como Estados Unidos, Uruguai e várias nações europeias, no Brasil o testamento vital ainda não existe na legislação. Assim, caso eu hoje tenha uma doença que se revele incurável, corro o risco de morrer sozinha, amarrada aos tubos de uma UTI, naquilo que para mim é uma cena de filme de terror e contraria minhas crenças mais profundas. Basta que o médico decida que é dono da minha vida ou, pior, que sabe o que é melhor para mim. E, pronto, estou condenada à morte que nunca quis.

O respeito à dignidade da vida humana é a preocupação que motiva o Conselho Federal de Medicina a promover este debate e propor a criação do testamento vital. O documento poderá nos dar a garantia de sermos respeitados também no último ato de nossas vidas. O psiquiatra espanhol Diego Gracia, um dos maiores nomes da bioética mundial, está entre os conferencistas convidados a debater a questão em agosto.
Para nos ajudar a compreender a importância do debate que se inicia publicamente no Brasil, entrevistei para esta coluna o cardiologista José Eduardo de Siqueira, 68 anos, doutor em medicina, professor de clínica médica e bioética da Universidade Estadual de Londrina e membro da comissão de cuidados paliativos do Conselho Federal de Medicina. Eles nos fala sobre o que está em jogo na discussão do testamento vital. E também sobre a paisagem na qual este debate se desenrola.

É uma conversa sobre os limites e equívocos da medicina, a deficiência do currículo das faculdades e a premência de se formar um novo médico – um que trate não as doenças das pessoas, mas as pessoas com doenças. José Eduardo de Siqueira, um médico com larga formação humanista, nos mostra que o testamento vital não é apenas um documento, mas uma discussão profunda sobre o que é ser médico e o que é ser paciente, sobre a morte e, principalmente, sobre a vida.

Leia a reportagem na íntegra - Revista ÉPOCA

domingo, 11 de julho de 2010

Considerações sobre Saúde/Doença

As concepções a respeito de saúde/doença estão inseridas no contexto cultural dos diferentes grupos que compõe a sociedade , e dessa forma, possuem características muito particulares. Há uma grande diferença entre o entendimento do paciente sobre sua doença e a concepção do profissional da saúde sobre a mesma doença, por isso é fundamental o estudo das diversas representações quanto à doença . O médico deve sempre estar atento à forma pela qual o paciente fala de sua doença, como ele a percebe e ainda o que ele espera tanto do exame físico como do diagnostico, pois este relato será determinante para a avaliação dos sintomas e o acerto tanto no diagnóstico como no tratamento. Ou seja a interação médico/paciente é essencial para o retorno mais rápido deste ultimo ao seu estado prévio de saúde.

A doença constitui fenômeno social por excelência, que supera em muito os limites biológicos do corpo, dessa forma há necessidade, por parte do profissional na sua prática cotidiana, do conhecimento das diferenças existentes entre os mais variados segmentos sociais sobre as suas representações a respeito da saúde/doença .

A política de saúde mental que vem sendo sustentada no Brasil nos dias de hoje é percebida em primeiro lugar pelo desvio de recursos financeiros públicos para as casa de saúde privadas, pela baixa remuneração dos profissionais, pela precária assistência psiquiátrica , e ainda pela política de “internações dos pacientes”.

A demanda crescente de atenção ambulatorial em saúde mental exige mais do que a ampliação ou reorganização da oferta de serviços, é preciso cada vez mais colocar em discussão uma nova visão de tratamento, através das alternativas terapêuticas. Portanto, atualmente, uma das metas prioritárias no campo de assistência psiquiátrica deve ser a reversão deste quadro, priorizando a reforma dos hospitais psiquiátricos da rede pública no sentido de alcançar um melhor atendimento à população, trazendo para os hospitais públicos uma nova visão por parte da opinião pública e resgatando tanto clientes como profissionais da situação de desrespeito e miséria em que se encontram.

Enquanto alternativa terapêutica, a internação deve ser transitória e de caráter excepcional. É importante a percepção de que os locais de internação (hospitais psiquiátricos) não cumprem o objetivo terapêutico, e em sua maioria, os quadros clínicos prescindem de internação, podendo ser tratados ambulatorialmente, e ainda , que para a maioria da população a internação e o mal atendimento ambulatorial faz com que o quadro da saúde mental seja cada vez mais de sofrimento crônico.

É preciso pensar a nova proposta do atendimento extra-hospitalar nos ambulatórios e nos centros de saúde , que deve ser priorizada e enfatizada. A política de saúde progressista, que visa atender as necessidades da população das camadas menos privilegiadas, deve reconhecer o direito dessa população em receber um atendimento adequado através de um maior número de procedimentos e técnicas psicoterápicas, assim como medicamentos, que assegurem tanto a manutenção como a recuperação dos níveis de saúde.

Além disso é importante também, que haja um melhor critério de avaliação e posicionamento dos médicos tanto frente ao papel da indústria farmacêutica, detentora do controle do desenvolvimento tecnológico e de sua pressão sobre os profissionais da saúde , como também diante da massificação das propagandas dos medicamentos não só junto aos profissionais mas também junto à população .

O médico deve sempre procurar atuar ultrapassando os limites da instituições de saúde, visando sempre prevenir os transtornos mentais, e quando necessária a terapêutica medicamentosa, nos casos mais graves, avaliar bem detalhadamente a prescrição do uso dos psicofármacos, levando sempre em conta o discurso do paciente: é necessário que o profissional de saúde esteja sempre pronto a ouvir e conhecer a história do paciente, perceber na sua fala a complexidade e riquezas próprias, conhece-lo melhor para que possa chegar a um diagnóstico adequado ( isto deve ser levado em conta não só na área da saúde mental como em toda a área de saúde).


Regina Fernandes - Psicanalista Clínica

sábado, 3 de julho de 2010