domingo, 11 de julho de 2010

Considerações sobre Saúde/Doença

As concepções a respeito de saúde/doença estão inseridas no contexto cultural dos diferentes grupos que compõe a sociedade , e dessa forma, possuem características muito particulares. Há uma grande diferença entre o entendimento do paciente sobre sua doença e a concepção do profissional da saúde sobre a mesma doença, por isso é fundamental o estudo das diversas representações quanto à doença . O médico deve sempre estar atento à forma pela qual o paciente fala de sua doença, como ele a percebe e ainda o que ele espera tanto do exame físico como do diagnostico, pois este relato será determinante para a avaliação dos sintomas e o acerto tanto no diagnóstico como no tratamento. Ou seja a interação médico/paciente é essencial para o retorno mais rápido deste ultimo ao seu estado prévio de saúde.

A doença constitui fenômeno social por excelência, que supera em muito os limites biológicos do corpo, dessa forma há necessidade, por parte do profissional na sua prática cotidiana, do conhecimento das diferenças existentes entre os mais variados segmentos sociais sobre as suas representações a respeito da saúde/doença .

A política de saúde mental que vem sendo sustentada no Brasil nos dias de hoje é percebida em primeiro lugar pelo desvio de recursos financeiros públicos para as casa de saúde privadas, pela baixa remuneração dos profissionais, pela precária assistência psiquiátrica , e ainda pela política de “internações dos pacientes”.

A demanda crescente de atenção ambulatorial em saúde mental exige mais do que a ampliação ou reorganização da oferta de serviços, é preciso cada vez mais colocar em discussão uma nova visão de tratamento, através das alternativas terapêuticas. Portanto, atualmente, uma das metas prioritárias no campo de assistência psiquiátrica deve ser a reversão deste quadro, priorizando a reforma dos hospitais psiquiátricos da rede pública no sentido de alcançar um melhor atendimento à população, trazendo para os hospitais públicos uma nova visão por parte da opinião pública e resgatando tanto clientes como profissionais da situação de desrespeito e miséria em que se encontram.

Enquanto alternativa terapêutica, a internação deve ser transitória e de caráter excepcional. É importante a percepção de que os locais de internação (hospitais psiquiátricos) não cumprem o objetivo terapêutico, e em sua maioria, os quadros clínicos prescindem de internação, podendo ser tratados ambulatorialmente, e ainda , que para a maioria da população a internação e o mal atendimento ambulatorial faz com que o quadro da saúde mental seja cada vez mais de sofrimento crônico.

É preciso pensar a nova proposta do atendimento extra-hospitalar nos ambulatórios e nos centros de saúde , que deve ser priorizada e enfatizada. A política de saúde progressista, que visa atender as necessidades da população das camadas menos privilegiadas, deve reconhecer o direito dessa população em receber um atendimento adequado através de um maior número de procedimentos e técnicas psicoterápicas, assim como medicamentos, que assegurem tanto a manutenção como a recuperação dos níveis de saúde.

Além disso é importante também, que haja um melhor critério de avaliação e posicionamento dos médicos tanto frente ao papel da indústria farmacêutica, detentora do controle do desenvolvimento tecnológico e de sua pressão sobre os profissionais da saúde , como também diante da massificação das propagandas dos medicamentos não só junto aos profissionais mas também junto à população .

O médico deve sempre procurar atuar ultrapassando os limites da instituições de saúde, visando sempre prevenir os transtornos mentais, e quando necessária a terapêutica medicamentosa, nos casos mais graves, avaliar bem detalhadamente a prescrição do uso dos psicofármacos, levando sempre em conta o discurso do paciente: é necessário que o profissional de saúde esteja sempre pronto a ouvir e conhecer a história do paciente, perceber na sua fala a complexidade e riquezas próprias, conhece-lo melhor para que possa chegar a um diagnóstico adequado ( isto deve ser levado em conta não só na área da saúde mental como em toda a área de saúde).


Regina Fernandes - Psicanalista Clínica

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