quarta-feira, 20 de outubro de 2010

JESUS X POLÍTICA

No tempo de Jesus existiam diversos “partidos” políticos, como, por exemplo, os saduceus que eram considerados os colaboracionistas com o poder atual i.e. os romanos. Havia também os zelotes, os homens do punhal, de revolução. Judas era um deles.

A respeito dos lideres políticos, notamos que Jesus chamou o Rei Herodes de “raposa” (Lc 13,32, e tinha uma olhar crítico sobre os governantes (Lc 22,25). Assim de um lado temos Judas como apostolo sendo um zelote. Cristo purificou o Templo; existiam armas entre os discípulos em Getsemani.

Mas, de outro lado, Mateus, também apostolo, tinha colaborado com o sistema vigente coletando impostos que sustentavam a dominação. Jesus condenou o uso da violência (cf. Mt 5,39 ss). Tudo indica que a doutrina de Jesus era uma atitude realista. Sobre a guerra diz (Lc 14,31): “Qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil”, etc.? Ou sobre a administração (16,1-7): “Havia certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens”, etc. Ou sobre a questão da justiça (18,1-5): “Havia numa cidade certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem”, etc. E também disse a Pilatos que seu poder vinha de Deus (Jo 19,11).

O teólogo alemão Schnackenburg escreve: “Se Jesus viu as injustas condições sociais e políticas de seu tempo, não se escandalizou diante delas e tentou remediá-las? Teria Jesus exposto ao lado de sua ética individual, outra ética social, a qual para nós se nos apresenta sobremaneira importante?”

“Conforme os textos do NT deve-se responder negativamente, pelo menos no sentido de uma ética social direta. É uma grotesca incompreensão considerar a Jesus, por suas palavras contra os ricos, como um revolucionário social; pela sua exigência de renúncia aos legítimos direitos, como um novo ordenador social (Tolstoi); pelo seu preceito de amor ao próximo, como um comunista; pela pregação do amor aos inimigos, com um pacifista, no sentido político da palavra; por seus ataques contra os doutores da lei, como um inimigo da ciência e da cultura.

“Todos esses unilateralismos mundanos não podem apelar para Jesus, já que todos eles desconhecem o objetivo primordial de Jesus em todas essas manifestações. Este objetivo é de ordem estritamente moral e religiosa. Jesus não se deixou comprometer de modo algum nas “questões mundanas”.

Jesus está mais preocupado com a implantação do Reino, com uma conversão de coração, a fraternidade entre os homens, em ter uma religião intimista. “Meu reino não é deste mundo”. Quer implantar uma ordem religiosa. Veja como resistiu à tentação do poder e da realeza temporal, Mt 4,2-10, (a tentação do Diabo), e Jo 6,14-15. Ele não resistiu o Pedro que queria se opor a sua morte? (Mt. 12,22 ss).

A ênfase é dada à reforma interior (Lc 6,27; 1Cor 7,17 e 29; Rm 12,2.). Disse que veio para chamar os pecadores (Mc 2,17), salvar os extraviados (Lc 19,10), oferecer sua vida como redenção (Mc 10,45; Jo 3,16; 10,10).

“Mas tudo isso significaria que a mensagem moral de Jesus não está em relação com a vida da sociedade, com a ética social, ou com as condições da vida mundana? Isso seria um erro perigoso, e com as piores conseqüências. Jesus não queria, de modo algum, separar do mundo seus discípulos e incutir-lhes, à maneira dos essênios, que se afastassem do meio de seu povo, e constituissem comunidades fechadas, regidas por um severo código moral.

“Jesus envia seus discípulos para o meio do mundo (Mt 10,16); e recomenda-lhes a tarefa de anunciar o Evangelho, primeiramente para Israel (Mt 10,5-6) e depois a todos os povos (Mt. 24,14 etc.)

Há uma visão realista. Por exemplo, a questão a respeito do tributo a César (Mc 12,13-17): deve-se pagar! E a resposta a Pilatos: todo poder vem de Deus. Sua ação diante de Herodes (Lc. 13,31-32), e a questão do serviço militar?

Podemos resumir a posição de Jesus diante do Estado desta maneira: O Estado é uma realidade dentro da existência atual. Mas não pode se absolutizar (ou se totalizar). Os discípulos de Cristo devem dar ao Estado o que necessita para sua realização como elemento da condição presente, mas deve opor-se a ele quando exigir o que é só de Deus.

Jesus está de acordo com os zelotes no reconhecer que o principal é o Reino de Deus; mas está em desacordo com eles quando afastam a existência do Estado como instituição profana (e necessária na atual situação) e proclamam a guerra santa para instaurar o Reino teocrático. Se os zelotes realizarem seu ideal, farão surgir um Estado totalitário, muito mais perigoso ainda. Não se pode formar um Estado partindo da comunidade daqueles que pregam o Reino de Deus.

Pe. Luís Kircher

Fonte: http://www.catequisar.com.br/texto/materia/fe/81.htm

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